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22 maio, 2013

Google Glass: quebra de um paradigma tecnológico

Segue texto com parte de um trabalho realizado por mim para a disciplina "Gestão de Negócios de Mídias Digitais", do curso de pós-graduação "Comunicação em Mídias Digitas", Universidade Estácio de Sá.



Informações mais precisas
Para uma melhor abordagem da questão proposta, inicialmente faz necessário esclarecer com informações já disponíveis, o que é o “projeto secreto” do Google, que na verdade é uma espécie óculos.
Conforme o site Gizmodo “O Google divulgou as especificações oficiais do Google Glass, e também as diretrizes que os apps feitos para a plataforma deverão seguir.
Os óculos futuristas vêm com 16GB de memória flash (apenas 12GB serão utilizáveis), câmera de 5 megapixels para fotos, gravação de vídeo em 720p, Bluetooth, Wi-Fi b/g (sem Wireless-N talvez para economizar energia), e uma bateria que aguenta 'um dia inteiro de uso típico' ”. 1
Já a Wikipedia informa que o “Project Glass é um projeto em desenvolvimento da Google que consiste num par de óculos conectados à Internet que usam uma tecnologia futurista de realidade aumentada.
O Google Glass é um dispositivo semelhante a um óculos, que fixados em um dos olhos, disponibiliza uma pequena tela acima do campo de visão. A pequena tela apresenta ao seu utilizador mapas, opções de música, previsão do tempo, rotas de mapas, e além disso, também é possível efetuar chamadas de vídeo ou tirar fotos de algo que se esteja a ver e compartilhar imediatamente através da Internet.” 2
E o site Techtudo complementa “ O Google Glass é um acessório em forma de óculos que possibilita a interação dos usuários com diversos conteúdos em realidade aumentada. Também chamado de Project Glass, o eletrônico é capaz de tirar fotos a partir de comandos de voz, enviar mensagens instantâneas e realizar videoconferências. Seu lançamento está previsto para 2014, e seu preço deve ser de US$ 1,5 mil. Atualmente o Google Glass encontra-se em fase de testes e já possui um vídeo totalmente gravado com o dispositivo. Além disso, a companhia de buscas registrou novas patentes anti-furto e de desbloqueio de tela para o acessório.” 3
Ainda conforme o mesmo site, “As funcionalidades mais interessantes são o Navigation, do Google Maps, para usar enquanto dirige, em caminhadas ou pedaladas; e o Google Hangout. Tirar fotos e gravar vídeos é bem fácil e rápido, e pode ser feito por voz ou apertando um pequeno botão em cima do aro.
O Glass não tem acesso 3G. Eles recomendam fazer uma conexão com o telefone, via Bluetooth, e usar o 3G ou 4G do aparelho. O acesso Wi-Fi também é uma opção, mas andando pela cidade não vai ajudar muito.” 4
Por fim, o projeto parece ser tão bem sucedido, que o site do Google Glass em português afirma que mesmo antes dele estar disponível comercialmente, já se está trabalhando em uma 2ª geração: “Ele ainda não chegou ao mercado, mas já faz tanto sucesso que informações sobre a sua segunda geração já vazaram: segundo registros de patente, o Google Glass já tem uma nova geração sendo projetada e ela deve contar com displays para ambos os olhos, aparentemente com projeções sobre lentes.
googleglass2O projeto – que está sendo liderado por Sergey Brin, cofundador da Google – foi registrado no U.S. Patent & Trade Office, escritório de registro de marcas e patentes nos Estados Unidos, e traz o nome de Google Project Glass Part 2, ou seja, uma segunda parte do projeto Google Glass.” 5
Enquanto desenvolvíamos este trabalho, a notícia é a de que o Google disponibilizou o Glass para algumas pessoas testarem o produto. Em notícia divulgada dia 1° de maio de 2013, o site do Jornal Folha de São Paulo, informa “Há duas semanas, o Google começou a distribuir os primeiros protótipos de seus óculos inteligentes para "exploradores" (título que a empresa dá às pessoas que estão testando a edição "Explorer" do Glass).
Desde então, imagens e vídeos capturados com o Glass têm sido publicados na internet. Por meio da tag #throughglass, é fácil encontrar conteúdo produzido com o dispositivo no Twitter e no Google+.” 6 Este fato por si só mostra que o Google Glass é uma realidade e que em breve estará disponível no mercado.


Conceituação e Impactos

Muitos dos impactos de uma inovação como Google Glass nos negócios em Mídias Digitais, ainda podem ser somente vislumbrados e outros nem isso. O conceito do produto é de tal forma inovador que introduz novas questões em diversos âmbitos das relações sociais, como veremos a seguir.
O dicionário Michaelis, traz entre as suas definições de inovação como sf (lat innovatione) 1 Ato ou efeito de inovar. 2 Coisa introduzida de novo. 3 Renovação. 7
Já o Dicionário Caldas Aulete, aponta “(i.no.va.ção) sf. 1. Ação ou resultado de inovar. 2. P.ext. Aquilo que representa uma novidade; algo que é novo: Resolveu fazer umas inovações na maneira de filmar. ” 8
Como Mídia Digital, a enciclopédia online Wikipedia define “O termo mídia digital (opósito de mídia analógica) refere-se a mídia eletrônica que trabalha com codecs digitais. No sentido mais amplo, mídia digital pode ser definida como o conjunto de veículos e aparelhos de comunicação baseados em tecnologia digital, permitindo a distribuição ou comunicação digital das obras intelectuais escritas, sonoras ou visuais. Meios de origem eletrônica utilizados nas estratégias de comunicação das marcas com seus consumidores, geralmente chamada de mídia digital” 9
A mesma fonte define realidade aumentada como “Realidade Aumentada (RA) é a integração de informações virtuais a visualizações do mundo real (como, por exemplo, através de uma câmera). Atualmente, a maior parte das pesquisas em RA está ligada ao uso de vídeos transmitidos ao vivo, que são digitalmente processados e “ampliados” pela adição de gráficos criados pelo computador. Pesquisas avançadas incluem uso de rastreamento de dados em movimento, reconhecimento de marcadores confiáveis utilizando mecanismos de visão, e a construção de ambientes controlados contendo qualquer número de sensores e atuadores.” 10
Reis, citando Schumpeter, sugere que o processo de inovação tecnológica ocorre em três fases:
  1. Invenção: quando é demonstrada a viabilidade de um novo produto ou processo.
  2. Inovação: quando a empresa obtém sucesso na venda de um produto novo ou melhorado, ou na utilização de um processo novo ou aperfeiçoado.
  3. Difusão: é a fase em que as inovações são adotadas em escala crescente por outras empresas.
Se buscarmos aplicar essas definições ao Google Glass, veremos que o mesmo se adapta parcialmente a elas, mas também as extrapola. Tomando o primeiro conceito (invenção), vemos que é plenamente aplicável ao projeto. Se também buscarmos aplicar o segundo conceito, podemos ver que embora ainda não estejam à venda, os óculos da Google já se constituem em um sucesso e muito dificilmente faltarão compradores para o produto. Por fim, se formos para o terceiro conceito (difusão), ele também pode ser aplicado. Como já foi citado, os próprios criadores do Google Glass já pediram patente para uma segunda versão do produto. Conforme o site Olhar Digital, ainda este ano a empresa Vuzix promete lançar um concorrente para o produto : “Os óculos inteligentes do Google só devem ser lançados em 2014, mas terão concorrência a partir do ano que vem. A empresa Vuzix, especializada em produtos óticos, oficializou nesta terça-feira, 13, o Smart Glasses M100.
...
'A integração com o Android e a possibilidade de download de aplicativos abre uma série possibilidades em relação aos aplicativos. Não se trata apenas dos óculos inteligentes, mas de uma plataforma especificamente projetada para realidade aumentada', explica Paul J. Travers, CEO da Vuzix.
Apesar de ainda não ter chegado ao ao mercado, o M100 foi considerado uma das melhores invenções do ano em premiação realizada esta semana pela 2013 Design and Engineering.” 11
O Dicionário Caldas Aulete define paradigma como “(pa.ra.dig.ma) sm. 1. Padrão que serve como modelo a ser imitado ou seguido; MODELO: Esse será o paradigma do novo projeto. ” 12
Já Reis, citando Dosi, pontua que “Um paradigma tecnológico define contextualmente as necessidades a serem atendidas, os princípios científicos a serem usados para as tarefas e a tecnologia de materiais empregados”.
Se nos ativermos a estas definições, sem dúvida o Google Glass representa um novo paradigma tecnológico e este é o primeiro grande impacto nos negócios em mídias digitais.
Pelo que se depreende das informações divulgadas até agora, os óculos permitem fotografar, ver e gravar fotos e vídeos, usar o Navigation para se locomover com maior facilidade e localizar pontos específicos. Villares afirma que “As aplicações de realidade aumentada móvel referem-se a informações sobre uma determinada localidade visualizadas em um dispositivo móvel, aumentando a informação. Assim um celular pode identificar uma pizzaria em local próximo e, por meio de links, ver a foto do lugar e ter acesso ao cardápio no website do restaurante”, com a diferença de que não será um celular, mas sim um dispositivo bem diferente.
Sem dúvida um dos grandes diferenciais do Google Glass é permitir a interação com o mundo virtual, utilizando sentidos como a visão, enquanto desenvolvemos atividades no mundo real. No exemplo anterior, se uso um celular para localizar um endereço, minha atenção visual está voltada para o dispositivo. Se estou caminhando, tenho que parar, ver o que quero e depois continuar. Já com o Google Glass, essa barreira é quebrada. Faria diz que “A tecnologia de realidade aumentada, é definida como a sobreposição, no ambiente real, de objetos virtuais e tridimensionais gerados por computador por meio de algum dispositivo tecnológico de videocaptura. Esta tecnologia disponibiliza uma interação sem necessidade de treinamento, pois o usuário pode trazer para o ambiente real os objetos virtuais, incrementando e aumentando a visão do mundo real. Isso somente é possível com técnicas de visão computacional juntamente com computação gráfica. ”
Em sua Conferência Anual de Desenvolvedores realizada dia 15/05/13, os principais executivos do Google, inclusive o executivo-chefe deles, Larry Page, anunciaram uma série de novidades que se integrarão muito bem ao Google Glass, se é que não foram desenvolvidas em função dele ou dos conceitos que o inspiram. Nesta conferência falou-se por exemplo em uma evolução do Google maps, que permitirá um mapa pessoal para cada um dos usuários, adaptando-se de maneira intuitiva e nos fornecendo informações personalizadas. Não é difícil relacionar esta mudança às funcionalidades do Navigation, presente nos óculos.13
Outra mudança anunciada durante a Conferência, foi a interação verbal (inclusive em português) que muito em breve os internautas terão com o Google. Conforme o site do Jornal Folha de São Paulo “ O novo recurso permitirá que o internauta faça uma nova busca apenas dizendo 'Ok, Google'. Sendo assim, será possível fazer uma pesquisa falando 'Ok, Google, onde fica a cidade de Melbourne?', por exemplo.
O Google agora também permite que os usuários ditem e-mails. Durante a demonstração ao vivo na conferência Google I/O, um executivo da empresa mandou um e-mail, via Gmail, para um contato apenas dizendo "envie para a Katie". O endereço de e-mail foi preenchido automaticamente, porque o Google já 'sabia' a quem o internauta se referia.” 14 Essa mudança parece também ter vindo sob medida para integrar-se ao projeto do Google Glass.
Conforme Vilares, a “Crescentemente, a tecnologia computacional está fazendo a mediação das nossas relações, tendo por consequências as comunidades virtuais e a inteligência coletiva.” Esta realidade evidencia-se com muita força, em uma revolução iniciada a alguns anos e que em uma velocidade cada vez maior altera comportamentos, relações, regras de mercado e a forma em que vivemos, nos comunicamos e percebemos o mundo. Ainda para o mesmo autor, “O traço distintivo desta revolução parece ser o surgimento de uma mídia participativa e individual, em contraposição a uma mídia de massa, fundamentalmente passiva, cujo conteúdo e divulgação estão concentrados nas mãos de um reduzido grupo de empresários”. Produtos como o Google Glass dão uma nova dimensão a esta realidade pois produzir conteúdo, veiculá-lo e acessar informações diversas poderá ser feito enquanto caminho, lavo pratos ou vejo um jogo de futebol. Hoje já se pode fazer isso, mas não com a mesma facilidade com que será feito usando os óculos.
Para Rezende, “Uma compreensão da realidade virtual seria entendê-la como reprodução da dimensão ordinária em um ambiente computadorizado, no qual o usuário interage nesse universo construído em computador como se estivesse no ambiente real”. Esta interação cada mais imbrincada e rica é a proposta por trás do produto do Google. Chegamos cada vez mais próximos da hipervirtualização. O mesmo autor afirma “ Uma outra modalidade de vivência virtual é a hipervirtualização, quando se experiencia o 'virtual' em um estágio em que não se interage mais com a realidade comum que é percebida.
Nesse sentido, como exemplo, o fenômeno de hipervirtualização seria o indivíduo estar em casa com a TV ligada 24 horas, estar dirigindo escutando rádio, caminhar com o MP3 e, quando não estiver em algumas dessas atividades, estar falando no celular e trabalhando no computador e acessando a internet. A hipervirtualização seria a completa atenção do pensamento humano voltada a uma dimensão ou a uma interface da virtualidade”.
Creio que o último parágrafo traduz muito bem a dimensão a que chegaremos em breve com produtos como o Google Glass.
Além do que já foi citado, há mais alguns fatores para que os óculos sejam um sucesso e uma inovação de grande porte.
O primeiro deles é que o Google Glass usa Android, um sistema operacional livre (Licença Apache) e de código aberto, que na verdade é um Gnu-Linux modificado. Isto permite uma grande personalização e uma infinidade de apps para o sistema pois qualquer pode desenvolver novos aplicativos e integrá-los. Inclusive as especificações para desenvolvimento de apps para o Google Glass já foram divulgadas 15. O site SocialGeek listou 8 vantagens usar Android, a saber: personalização, diversidade de dispositivos que usam o sistema, ampla comunidade de desenvolvedores, código aberto, acessibilidade, integração total com o Google, liberdade (de instalar, alterar etc) e por ser um sistema multitarefa. 16
Conforme o próprio Google existem 900 milhões de aparelhos rodando Android no mundo e destes, 500 milhões foram ativados somente no último ano. 17
O segundo motivo é a curiosidade e o forte apelo que o Google Glass despertam, o que aliado a um marketing bem feito e que já está em curso, devem transformá-lo em um produto de sucesso e na chave para outros produtos e serviços. Esta curiosidade não é só dos consumidores tradicionais. Produtos como o Google Glass trazem à tona o conceito de “prosumer”. Um exemplo talvez nem tão desejável citado pelo site Gizmodo: “O lendário hacker Jay Freeman, notoriamente conhecido como Saurik – que criou a loja de apps Cydia para aparelhos iOS com jailbreak – fez exatamente isso. Ele já ganhou acesso root no Google Glass. Como ele fez isso? Freeman descobriu que o Glass roda Android 4.0.4, e então modificou um exploit de outro hacker, chamado B1nary, que permite acesso root em smartphones com Android 4.0.4.”. 18
Exemplo similar pode ser encontrado em matéria no site da revista Exame, que detalha “O Google Glass nem chegou ao público geral e já é um dos gadgets mais desejados do momento. Com o óculos inteligente somente nas mãos dos desenvolvedores e o provável preço salgado no futuro, alguns entusiastas da tecnologia deram um "jeitinho" e criaram seu próprio Glass.” 19
Um terceiro fator é a força do Google, empresa com renome e grande potencial focado na área de Tecnologia da Informação (TI) e que aposta forte no Google Glass. Para Memória, “um produto bem projetado envolve muito mais do que apenas um conteúdo de qualidade. Questões como facilidade de uso, desempenho e design gráfico também também são importantes. A satisfação subjetiva, a 'agradabilidade', tanto estudada por Donald Norman, também faz parte desse todo. O conjunto resultante de todos esses fatores, mais a questão do flow, ou seja, da fluidez, e imersão total, tem a capacidade de gerar aquilo que podemos chamar de 'experiência perfeita'”. Aparentemente é isto que o Google está buscando.
Grandes redes sociais como o Twitter parecem já estar desenvolvendo aplicativos para o Google Glass. Segundo o site FayerWaayer “Porque el día de ayer comenzó a aparecer en la red social el hashtag#ThroughGlass, con varios de esos mensajes mostrando que fueron enviados desde “Twitter para Glass”, siendo la primera evidencia de que ya hay personas utilizando la nueva herramienta y que ésta se encuentra en estado funcional.” 20 Informações da Conferência de Desenvolvedores do Google também dão conta de que além do Twitter, já há aplicativos para o Facebook (por enquanto só postar fotos), Evernote e Tumbir. Além disso, a rede de TV CNN e a revista Elle apresentaram pequenos aplicativos para os óculos.
Informações da mesma Conferência asseguram que engenheiros do próprio Google conseguiram instalar a distribuição Gnu-Linux Ubuntu no Google Glass, mostrando sua flexibilidade.
Poderíamos continuar citando outros fatores, mas creio que estes são suficientes para ilustrar o que já foi dito e, principalmente, para justificar as conclusões a seguir. Antes, no entanto, um alerta.

Um alerta e uma reflexão

Ao tratar de modelos de mudança tecnológica, Reis pondera que “Quando se tenta lidar com a relação ciência-tecnologia, sempre surgem algumas dificuldades, porque essa questão é fortemente afetada por atitudes ideológicas”. Por sua vez, Rezende diz: “Na verdade, com a experiência humana integrada ao uso de tecnologias digitais, passa a existir um ser humano mais complexo, de uma vivência ampliada”.
As duas afirmações acima se relacionam diretamente com projetos como o Google Glass e se mostram bastante pertinentes se levarmos em conta a disputa pelo controle da internet, envolvendo governos, corporações, sociedade civil, ativistas e mais uma infinidade de grupos e indivíduos que atuam na sociedade da informação. Para alguns deles, estas questões serão mesmo determinantes para o futuro da humanidade.
Julian Assange, fundador do Wikileaks21, já chegou a afirmar textualmente que “a internet é uma ameaça à civilização humana”. Para quem só tem em mente a lógica do mercado e não está preocupado com questões políticas, éticas e nem com a responsabilidade social dos desenvolvedores e desconhece a trajetória de Assange e do Wikileaks, esta afirmativa pode parecer um tremendo exagero ou mesmo um delírio. Infelizmente não é. Enclausurado há vários meses na embaixada do Equador em Londres e sob constante ameaça de extradição, Assange lançou recentemente, com três amigos, o livro “Cypherpunks – Liberdade e o Futuro da Internet”. Na obra, eles que se definem como um “geeks virtuosos”, traçam um panorama sombrio mas bastante real de como as grandes corporações e governos conspiram, vigiam e se apropriam de dados das pessoas, muitas vezes sem o consentimento ou conhecimento das mesmas e utilizam as informações para proveito econômico, político e de controle social. Algumas das denúncias mais sérias do livro se voltam contra empresas como o Facebook e o Google. Sobre este último, em um trecho de Cypherpunks, eles afirmam “A vigilância patrocinada pelo Estado é de fato um grande problema, que põe em risco a própria estrutura de todas as democracias e seu funcionamento, mas também há a vigilância privada e a potencial coleta de dados em massa por parte do setor privado. Basta dar uma olhada no Google. Se você for um usuário-padrão, o Google sabe com quem você se comunica, quem você conhece, o que está pesquisando e, possivelmente, sua preferência sexual, sua religião e suas crenças filosóficas.”
Não é preciso ser muito brilhante para ver como isto se relaciona com O Google Glass e com um mundo onde todos poderão viver numa hipervirtualização.
Em artigo publicado no site da revista Carta Capital, e com o sugestivo título de “Óculos à George Orwell”22, Mendonça afirma que “O projeto google Glass começa a suscitar opiniões fortes. Existe algo de muito sedutor em usar óculos capazes de inserir informações em uma pequena tela, sobrepondo, a todo instante, a internet e a realidade.
Alguns percebem no aparelho uma constante invasão da privacidade alheia, pois ele tem entre as funções o poder de tirar fotos ou gravar vídeos de qualquer pessoa em sua mira.
O problema foi colocado de forma sucinta e muito precisa pelo colunista Shane Hegarty, do Irish Times. 'Imagine o futuro próximo. Algum ponto do próximo ano. Você, meu senhor, está em um banheiro público e um homem chega para usar o mictório ao seu lado. Ele faz um gesto com a cabeça, tenta ser educado. Aí você percebe que ele está usando o Glass e tirou uma foto sua, enquanto você fazia as suas necessidades. Algo próximo de uma celeuma estaria ali instaurada. '”
Também em artigo recente no site Observatório da Imprensa23, Doria segue uma linha de raciocínio semelhante “ Para deixar alguém do Google reticente, basta perguntar sobre privacidade. O sujeito entra no banheiro público com Google Glass, ninguém sabe se está filmando. É o exemplo mais óbvio. Mas pode ser uma discussão, uma conversa privada, são inúmeros os exemplos em que o aparelho pode se mostrar inconveniente. A resposta padrão é: a sociedade terá de se reacomodar, decidir qual é a nova etiqueta. Claro que sim. Uma das soluções possíveis é, simplesmente, recusar o aparelho. Achar que ele não tem lugar. ”
Mendonça, já citado anteriormente, arremata “Quando um hacker invadir os seus óculos, terá muito mais poder do que se tivesse acesso ao seu computador ou ao seu telefone. Ele tem controle de uma câmera e um microfone conectado à cabeça. Um Glass infectado não só transmite todos os seus movimentos, ele também vê tudo que você vê e escuta tudo que você ouve.” E, como já vimos anteriormente, Jay Freman afirma já ter feito isso.
São questões sérias, que não podem ser resolvidas somente no âmbito das relações comerciais.


Conclusão

Voltando a questão inicial, ou seja, analisando as possíveis consequências do Google Glass nos Negócios em Mídias Digitais, vemos que:
Usando tecnologia de ponta e novos conceitos, os óculos criam a possibilidade de sobrepormos o mundo real e o virtual, gerando uma experiência de interação entre ambos em um grau ainda não visto, uma hipervirtualização com pessoas desempenhando tarefas rotineiras enquanto estão conectados à internet acessando e gerando conteúdo.
Mesmo antes do lançamento, o Google Glass já pode ser considerado um sucesso pois está extrapolando uma das definições clássicas de inovação tecnológica. Muitos dos impactos positivos e negativos do produto podem somente ser vislumbrados no momento atual. Como o Google Glass permitirá que pessoas se conectem as mídias digitais quando de uma forma que antes não podiam fazê-lo, isto abre uma nova fronteira não só para desenvolvedores de aplicativos, mas para toda uma gama de novos produtos e serviços, ampliando também o espaço daqueles que hoje já estão no mercado.
O Google está investindo pesado nos conceitos que orientaram a criação do Glass e está modificando alguns de seus outros serviços e produtos para interagirem com os óculos. O fato de usar Android, é uma grande força para o produto que antes mesmo do seu lançamento já motiva cópias. Desenvolvedores que trabalham com foco em redes sociais como o Twitter, parecem já estar desenvolvendo apps para os óculos.
Por outro lado, há questões de cunho ético, social e até político que envolvem o uso do produto. No momento em que se trava uma batalha pelo controle da internet e que cada vez mais pessoas são vítimas da perda de privacidade, da vigilância, do roubo de dados e de falhas na segurança da informação, o Google Glass pode representar um grande risco e colaborar para uma distopia social amparada na tecnologia, algo similar ao que foi descrito por George Orwell em seu livro “1984”.
Em sínteses, o Google Glass cria um novo paradigma tecnológico, o que demandará não só novos produtos e serviços, mas também novas atitudes dos indivíduos e da sociedade.

Livros e Revistas consultados
  • Produzindo Coletivamente na Web - A tecnologia Wiki - Marial Conceição Alves Lima: biblioteca24x7.com.br, 2009
  • Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, Julian Assange, coautoria de Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann, Boitempo, 2013
  • Novas mídias digitais (audiovisual, games e música);Impactos políticos, econômicos e sociais - Fábio Villares (org.) - Rio de Janeiro:E-papers, 2008
  • Gestão de inovação Tecnológica, - Dálcio Roberto dos Reis, 2ª edição, Manole, 2008
  • Design para a internet - Felipe Memória, 1ª edição, 2005, Elsevier
  • Crônicas da virtualidade - Julio Francisco Dantas Rezende. - Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
  • Real versus virtual”, artigo de Alessandro Vieira Faria (Cabelo), revista Linux Magazine, edição N° 77, abril de 2011


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