Segue texto com parte de um trabalho realizado por mim para a disciplina "Gestão de Negócios de Mídias Digitais", do curso de pós-graduação "Comunicação em Mídias Digitas", Universidade Estácio de Sá.
Informações
mais precisas
Para
uma melhor abordagem da questão proposta, inicialmente faz
necessário esclarecer com informações já disponíveis, o que é
o “projeto secreto” do Google, que na verdade é uma espécie
óculos.
Conforme
o site Gizmodo “O Google divulgou as especificações oficiais do
Google Glass, e também as diretrizes que os apps feitos para a
plataforma deverão seguir.
Os
óculos futuristas vêm com 16GB de memória flash (apenas 12GB serão
utilizáveis), câmera de 5 megapixels para fotos, gravação de
vídeo em 720p, Bluetooth, Wi-Fi b/g (sem Wireless-N talvez para
economizar energia), e uma bateria que aguenta 'um dia inteiro de uso
típico' ”. 1
Já
a Wikipedia informa que o “Project Glass é um projeto em
desenvolvimento da Google que consiste num par de óculos conectados
à Internet que usam uma tecnologia futurista de realidade aumentada.
O
Google Glass é um dispositivo semelhante a um óculos, que fixados
em um dos olhos, disponibiliza uma pequena tela acima do campo de
visão. A pequena tela apresenta ao seu utilizador mapas, opções de
música, previsão do tempo, rotas de mapas, e além disso, também é
possível efetuar chamadas de vídeo ou tirar fotos de algo que se
esteja a ver e compartilhar imediatamente através da Internet.” 2
E
o site Techtudo complementa “ O Google Glass é um
acessório em forma de óculos que possibilita a interação dos
usuários com diversos conteúdos em realidade aumentada. Também
chamado de Project Glass, o eletrônico é capaz de tirar fotos a
partir de comandos de voz, enviar mensagens instantâneas e realizar
videoconferências. Seu lançamento está previsto para 2014, e seu
preço deve ser de US$ 1,5 mil. Atualmente o Google Glass encontra-se
em fase de testes e já possui um vídeo totalmente gravado com o
dispositivo. Além disso, a companhia de buscas registrou novas
patentes anti-furto e de desbloqueio de tela para o acessório.” 3
Ainda
conforme o mesmo site, “As funcionalidades mais interessantes são
o Navigation, do Google Maps, para usar enquanto dirige, em
caminhadas ou pedaladas; e o Google Hangout. Tirar fotos e gravar
vídeos é bem fácil e rápido, e pode ser feito por voz ou
apertando um pequeno botão em cima do aro.
O
Glass não tem acesso 3G. Eles recomendam fazer uma conexão com o
telefone, via Bluetooth, e usar o 3G ou 4G do aparelho. O acesso
Wi-Fi também é uma opção, mas andando pela cidade não vai ajudar
muito.” 4
Por
fim, o projeto parece ser tão bem sucedido, que o site do Google
Glass em português afirma que mesmo antes dele estar disponível
comercialmente, já se está trabalhando em uma 2ª geração: “Ele
ainda não chegou ao mercado, mas já faz tanto sucesso que
informações sobre a sua segunda geração já vazaram: segundo
registros de patente, o Google Glass já tem uma nova geração sendo
projetada e ela deve contar com displays para ambos os olhos,
aparentemente com projeções sobre lentes.
googleglass2O
projeto – que está sendo liderado por Sergey Brin, cofundador da
Google – foi registrado no U.S. Patent & Trade Office,
escritório de registro de marcas e patentes nos Estados Unidos, e
traz o nome de Google Project Glass Part 2, ou seja, uma segunda
parte do projeto Google Glass.” 5
Enquanto
desenvolvíamos este trabalho, a notícia é a de que o Google
disponibilizou o Glass para algumas pessoas testarem o produto. Em
notícia divulgada dia 1° de maio de 2013, o site do Jornal Folha de
São Paulo, informa “Há
duas semanas, o Google começou a distribuir os primeiros protótipos
de seus óculos inteligentes para "exploradores" (título
que a empresa dá às pessoas que estão testando a edição
"Explorer" do Glass).
Desde
então, imagens e vídeos capturados com o Glass têm sido publicados
na internet. Por meio da tag #throughglass, é fácil encontrar
conteúdo produzido com o dispositivo no Twitter
e
no Google+.”
6
Este
fato por si só mostra que o Google Glass é uma realidade e que em
breve estará disponível no mercado.
Conceituação
e Impactos
Muitos
dos impactos de uma inovação como Google Glass nos negócios em
Mídias Digitais, ainda podem ser somente vislumbrados e outros nem
isso. O conceito do produto é de tal forma inovador que introduz
novas questões em diversos âmbitos das relações sociais, como
veremos a seguir.
O
dicionário Michaelis, traz entre as suas definições de inovação
como sf (lat innovatione) 1 Ato ou efeito de inovar. 2 Coisa
introduzida de novo. 3 Renovação. 7
Já
o Dicionário Caldas Aulete, aponta “(i.no.va.ção) sf. 1. Ação
ou resultado de inovar. 2. P.ext. Aquilo que representa uma novidade;
algo que é novo: Resolveu fazer umas inovações na maneira de
filmar. ” 8
Como
Mídia Digital, a enciclopédia online Wikipedia define “O termo
mídia digital (opósito de mídia analógica) refere-se a mídia
eletrônica que trabalha com codecs digitais. No sentido mais amplo,
mídia digital pode ser definida como o conjunto de veículos e
aparelhos de comunicação baseados em tecnologia digital, permitindo
a distribuição ou comunicação digital das obras intelectuais
escritas, sonoras ou visuais. Meios de origem eletrônica utilizados
nas estratégias de comunicação das marcas com seus consumidores,
geralmente chamada de mídia digital” 9
A
mesma fonte define realidade aumentada como “Realidade
Aumentada
(RA)
é a integração de informações virtuais a visualizações do
mundo real (como, por exemplo, através de uma câmera). Atualmente,
a maior parte das pesquisas em RA está ligada ao uso de vídeos
transmitidos ao vivo, que são digitalmente processados e “ampliados”
pela adição de gráficos criados pelo computador. Pesquisas
avançadas incluem uso de rastreamento de dados em movimento,
reconhecimento de marcadores confiáveis utilizando mecanismos de
visão, e a construção de ambientes controlados contendo qualquer
número de sensores e atuadores.” 10
Reis,
citando Schumpeter, sugere que o processo de inovação tecnológica
ocorre em três fases:
- Invenção: quando é demonstrada a viabilidade de um novo produto ou processo.
- Inovação: quando a empresa obtém sucesso na venda de um produto novo ou melhorado, ou na utilização de um processo novo ou aperfeiçoado.
- Difusão: é a fase em que as inovações são adotadas em escala crescente por outras empresas.
Se
buscarmos aplicar essas definições ao Google Glass, veremos que o
mesmo se adapta parcialmente a elas, mas também as extrapola.
Tomando o primeiro conceito (invenção), vemos que é plenamente
aplicável ao projeto. Se também buscarmos aplicar o segundo
conceito, podemos ver que embora ainda não estejam à venda, os
óculos da Google já se constituem em um sucesso e muito
dificilmente faltarão compradores para o produto. Por fim, se formos
para o terceiro conceito (difusão), ele também pode ser aplicado.
Como já foi citado, os próprios criadores do Google Glass já
pediram patente para uma segunda versão do produto. Conforme o site
Olhar Digital, ainda este ano a empresa Vuzix promete lançar um
concorrente para o produto : “Os óculos inteligentes do Google só
devem ser lançados em 2014, mas terão concorrência a partir do ano
que vem. A empresa Vuzix, especializada em produtos óticos,
oficializou nesta terça-feira, 13, o Smart Glasses M100.
...
'A
integração com o Android e a possibilidade de download de
aplicativos abre uma série possibilidades em relação aos
aplicativos. Não se trata apenas dos óculos inteligentes, mas de
uma plataforma especificamente projetada para realidade aumentada',
explica Paul J. Travers, CEO da Vuzix.
Apesar
de ainda não ter chegado ao ao mercado, o M100 foi considerado uma
das melhores invenções do ano em premiação realizada esta semana
pela 2013 Design and Engineering.” 11
O
Dicionário Caldas Aulete define paradigma como “(pa.ra.dig.ma) sm.
1. Padrão que serve como modelo a ser imitado ou seguido; MODELO:
Esse será o paradigma do novo projeto. ” 12
Já
Reis, citando Dosi, pontua que “Um paradigma tecnológico define
contextualmente as necessidades a serem atendidas, os princípios
científicos a serem usados para as tarefas e a tecnologia de
materiais empregados”.
Se
nos ativermos a estas definições, sem dúvida o Google Glass
representa um novo paradigma tecnológico e este é o primeiro grande
impacto nos negócios em mídias digitais.
Pelo
que se depreende das informações divulgadas até agora, os óculos
permitem fotografar, ver e gravar fotos e vídeos, usar o Navigation
para se locomover com maior facilidade e localizar pontos
específicos. Villares afirma que “As aplicações de realidade
aumentada móvel referem-se a informações sobre uma determinada
localidade visualizadas em um dispositivo móvel, aumentando a
informação. Assim um celular pode identificar uma pizzaria em local
próximo e, por meio de links, ver a foto do lugar e ter acesso ao
cardápio no website do restaurante”, com a diferença de que não
será um celular, mas sim um dispositivo bem diferente.
Sem
dúvida um dos grandes diferenciais do Google Glass é permitir a
interação com o mundo virtual, utilizando sentidos como a visão,
enquanto desenvolvemos atividades no mundo real. No exemplo anterior,
se uso um celular para localizar um endereço, minha atenção visual
está voltada para o dispositivo. Se estou caminhando, tenho que
parar, ver o que quero e depois continuar. Já com o Google Glass,
essa barreira é quebrada. Faria diz que “A tecnologia de
realidade aumentada, é definida como a sobreposição, no ambiente
real, de objetos virtuais e tridimensionais gerados por computador
por meio de algum dispositivo tecnológico de videocaptura. Esta
tecnologia disponibiliza uma interação sem necessidade de
treinamento, pois o usuário pode trazer para o ambiente real os
objetos virtuais, incrementando e aumentando a visão do mundo real.
Isso somente é possível com técnicas de visão computacional
juntamente com computação gráfica. ”
Em
sua Conferência Anual de Desenvolvedores realizada dia 15/05/13, os
principais executivos do Google, inclusive o executivo-chefe deles,
Larry Page, anunciaram uma série de novidades que se integrarão
muito bem ao Google Glass, se é que não foram desenvolvidas em
função dele ou dos conceitos que o inspiram. Nesta conferência
falou-se por exemplo em uma evolução do Google maps, que permitirá
um mapa pessoal para cada um dos usuários, adaptando-se de maneira
intuitiva e nos fornecendo informações personalizadas. Não é
difícil relacionar esta mudança às funcionalidades do Navigation,
presente nos óculos.13
Outra
mudança anunciada durante a Conferência, foi a interação verbal
(inclusive em português) que muito em breve os internautas terão
com o Google. Conforme o site do Jornal Folha de São Paulo “ O
novo recurso permitirá que o internauta faça uma nova busca apenas
dizendo 'Ok, Google'. Sendo assim, será possível fazer uma pesquisa
falando 'Ok, Google, onde fica a cidade de Melbourne?', por exemplo.
O
Google agora também permite que os usuários ditem e-mails. Durante
a demonstração ao vivo na conferência Google I/O, um executivo da
empresa mandou um e-mail, via Gmail, para um contato apenas dizendo
"envie para a Katie". O endereço de e-mail foi preenchido
automaticamente, porque o Google já 'sabia' a quem o internauta se
referia.” 14
Essa mudança parece também ter vindo sob medida para integrar-se
ao projeto do Google Glass.
Conforme
Vilares, a “Crescentemente, a tecnologia computacional está
fazendo a mediação das nossas relações, tendo por consequências
as comunidades virtuais e a inteligência coletiva.” Esta realidade
evidencia-se com muita força, em uma revolução iniciada a alguns
anos e que em uma velocidade cada vez maior altera comportamentos,
relações, regras de mercado e a forma em que vivemos, nos
comunicamos e percebemos o mundo. Ainda para o mesmo autor, “O
traço distintivo desta revolução parece ser o surgimento de uma
mídia participativa e individual, em contraposição a uma mídia de
massa, fundamentalmente passiva, cujo conteúdo e divulgação estão
concentrados nas mãos de um reduzido grupo de empresários”.
Produtos como o Google Glass dão uma nova dimensão a esta realidade
pois produzir conteúdo, veiculá-lo e acessar informações diversas
poderá ser feito enquanto caminho, lavo pratos ou vejo um jogo de
futebol. Hoje já se pode fazer isso, mas não com a mesma
facilidade com que será feito usando os óculos.
Para
Rezende, “Uma compreensão
da realidade virtual seria entendê-la como reprodução da dimensão
ordinária em um ambiente computadorizado, no qual o usuário
interage nesse universo construído em computador como se estivesse
no ambiente real”. Esta interação cada mais imbrincada e rica é
a proposta por trás do produto do Google. Chegamos cada vez mais
próximos da hipervirtualização. O mesmo autor afirma “ Uma outra
modalidade de vivência virtual é a hipervirtualização, quando se
experiencia o 'virtual' em um estágio em que não se interage mais
com a realidade comum que é percebida.
Nesse
sentido, como exemplo, o fenômeno de hipervirtualização seria o
indivíduo estar em casa com a TV ligada 24 horas, estar dirigindo
escutando rádio, caminhar com o MP3 e, quando não estiver em
algumas dessas atividades, estar falando no celular e trabalhando no
computador e acessando a internet. A hipervirtualização seria a
completa atenção do pensamento humano voltada a uma dimensão ou a
uma interface da virtualidade”.
Creio
que o último parágrafo traduz muito bem a dimensão a que
chegaremos em breve com produtos como o Google Glass.
Além
do que já foi citado, há mais alguns fatores para que os óculos
sejam um sucesso e uma inovação de grande porte.
O
primeiro deles é que o Google Glass usa Android, um sistema
operacional livre (Licença Apache) e de código aberto, que na
verdade é um Gnu-Linux modificado. Isto permite uma grande
personalização e uma infinidade de apps para o sistema pois
qualquer pode desenvolver novos aplicativos e integrá-los. Inclusive
as especificações para desenvolvimento de apps para o Google Glass
já foram divulgadas 15.
O site SocialGeek listou 8 vantagens usar Android, a saber:
personalização, diversidade de dispositivos que usam o sistema,
ampla comunidade de desenvolvedores, código aberto, acessibilidade,
integração total com o Google, liberdade (de instalar, alterar etc)
e por ser um sistema multitarefa. 16
Conforme
o próprio Google existem 900 milhões de aparelhos rodando Android
no mundo e destes, 500 milhões foram ativados somente no último
ano. 17
O
segundo motivo é a curiosidade e o forte apelo que o Google Glass
despertam, o que aliado a um marketing bem feito e que já está em
curso, devem transformá-lo em um produto de sucesso e na chave para
outros produtos e serviços. Esta curiosidade não é só dos
consumidores tradicionais. Produtos como o Google Glass trazem à
tona o conceito de “prosumer”. Um exemplo talvez nem tão
desejável citado pelo site Gizmodo: “O lendário hacker Jay
Freeman, notoriamente conhecido como Saurik – que criou a loja de
apps Cydia para aparelhos iOS com jailbreak – fez exatamente isso.
Ele já ganhou acesso root no Google Glass. Como ele fez isso?
Freeman descobriu que o Glass roda Android 4.0.4, e então modificou
um exploit de outro hacker, chamado B1nary, que permite acesso root
em smartphones com Android 4.0.4.”. 18
Exemplo
similar pode ser encontrado em matéria no site da revista Exame, que
detalha “O Google Glass nem chegou ao público geral e já é um
dos gadgets mais desejados do momento. Com o óculos inteligente
somente nas mãos dos desenvolvedores e o provável preço salgado no
futuro, alguns entusiastas da tecnologia deram um "jeitinho"
e criaram seu próprio Glass.” 19
Um
terceiro fator é a força do Google, empresa com renome e grande
potencial focado na área de Tecnologia da Informação (TI) e que
aposta forte no Google Glass. Para Memória, “um produto bem
projetado envolve muito mais do que apenas um conteúdo de qualidade.
Questões como facilidade de uso, desempenho e design gráfico também
também são importantes. A satisfação subjetiva, a
'agradabilidade', tanto estudada por Donald Norman, também faz parte
desse todo. O conjunto resultante de todos esses fatores, mais a
questão do flow, ou seja, da fluidez, e imersão total, tem a
capacidade de gerar aquilo que podemos chamar de 'experiência
perfeita'”. Aparentemente é isto que o Google está buscando.
Grandes
redes sociais como o Twitter parecem já estar desenvolvendo
aplicativos para o Google Glass. Segundo o site FayerWaayer “Porque
el día de ayer comenzó a aparecer en la red social el
hashtag#ThroughGlass, con varios de
esos mensajes mostrando que fueron enviados desde “Twitter para
Glass”, siendo la primera evidencia de que ya hay personas
utilizando la nueva herramienta y que ésta se encuentra en estado
funcional.” 20
Informações da Conferência de
Desenvolvedores do Google também dão conta de que além do Twitter,
já há aplicativos para o Facebook (por enquanto só postar fotos),
Evernote e Tumbir. Além disso, a rede de TV CNN e a revista Elle
apresentaram pequenos aplicativos para os óculos.
Informações
da mesma Conferência asseguram que engenheiros do próprio Google
conseguiram instalar a distribuição Gnu-Linux Ubuntu no Google
Glass, mostrando sua flexibilidade.
Poderíamos
continuar citando outros fatores, mas creio que estes são
suficientes para ilustrar o que já foi dito e, principalmente, para
justificar as conclusões a seguir. Antes, no entanto, um alerta.
Um
alerta e uma reflexão
Ao
tratar de modelos de mudança tecnológica, Reis pondera que “Quando
se tenta lidar com a relação ciência-tecnologia, sempre surgem
algumas dificuldades, porque essa questão é fortemente afetada por
atitudes ideológicas”. Por sua vez, Rezende diz: “Na verdade,
com a experiência humana integrada ao uso de tecnologias digitais,
passa a existir um ser humano mais complexo, de uma vivência
ampliada”.
As
duas afirmações acima se relacionam diretamente com projetos como o
Google Glass e se mostram bastante pertinentes se levarmos em conta a
disputa pelo controle da internet, envolvendo governos, corporações,
sociedade civil, ativistas e mais uma infinidade de grupos e
indivíduos que atuam na sociedade da informação. Para alguns
deles, estas questões serão mesmo determinantes para o futuro da
humanidade.
Julian
Assange, fundador do Wikileaks21,
já chegou a afirmar textualmente que “a internet é uma ameaça à
civilização humana”. Para quem só tem em mente a lógica do
mercado e não está preocupado com questões políticas, éticas e
nem com a responsabilidade social dos desenvolvedores e desconhece a
trajetória de Assange e do Wikileaks, esta afirmativa pode parecer
um tremendo exagero ou mesmo um delírio. Infelizmente não é.
Enclausurado há vários meses na embaixada do Equador em Londres e
sob constante ameaça de extradição, Assange lançou recentemente,
com três amigos, o livro “Cypherpunks – Liberdade e o Futuro da
Internet”. Na obra, eles que se definem como um “geeks
virtuosos”, traçam um panorama sombrio mas bastante real de como
as grandes corporações e governos conspiram, vigiam e se apropriam
de dados das pessoas, muitas vezes sem o consentimento ou
conhecimento das mesmas e utilizam as informações para proveito
econômico, político e de controle social. Algumas das denúncias
mais sérias do livro se voltam contra empresas como o Facebook e o
Google. Sobre este último, em um trecho de Cypherpunks, eles afirmam
“A vigilância patrocinada pelo Estado é de fato um grande
problema, que põe em risco a própria estrutura de todas as
democracias e seu funcionamento, mas também há a vigilância
privada e a potencial coleta de dados em massa por parte do setor
privado. Basta dar uma olhada no Google. Se você for um
usuário-padrão, o Google sabe com quem você se comunica, quem você
conhece, o que está pesquisando e, possivelmente, sua preferência
sexual, sua religião e suas crenças filosóficas.”
Não
é preciso ser muito brilhante para ver como isto se relaciona com O
Google Glass e com um mundo onde todos poderão viver numa
hipervirtualização.
Em
artigo publicado no site da revista Carta Capital, e com o sugestivo
título de “Óculos à George Orwell”22,
Mendonça afirma que “O projeto google Glass começa a suscitar
opiniões fortes. Existe algo de muito sedutor em usar óculos
capazes de inserir informações em uma pequena tela, sobrepondo, a
todo instante, a internet e a realidade.
Alguns
percebem no aparelho uma constante invasão da privacidade alheia,
pois ele tem entre as funções o poder de tirar fotos ou gravar
vídeos de qualquer pessoa em sua mira.
O
problema foi colocado de forma sucinta e muito precisa pelo colunista
Shane Hegarty, do Irish Times. 'Imagine o futuro próximo. Algum
ponto do próximo ano. Você, meu senhor, está em um banheiro
público e um homem chega para usar o mictório ao seu lado. Ele faz
um gesto com a cabeça, tenta ser educado. Aí você percebe que ele
está usando o Glass e tirou uma foto sua, enquanto você fazia as
suas necessidades. Algo próximo de uma celeuma estaria ali
instaurada. '”
Também
em artigo recente no site Observatório da Imprensa23,
Doria segue uma linha de raciocínio semelhante “ Para deixar
alguém do Google reticente, basta perguntar sobre privacidade. O
sujeito entra no banheiro público com Google Glass, ninguém sabe se
está filmando. É o exemplo mais óbvio. Mas pode ser uma discussão,
uma conversa privada, são inúmeros os exemplos em que o aparelho
pode se mostrar inconveniente. A resposta padrão é: a sociedade
terá de se reacomodar, decidir qual é a nova etiqueta. Claro que
sim. Uma das soluções possíveis é, simplesmente, recusar o
aparelho. Achar que ele não tem lugar. ”
Mendonça,
já citado anteriormente, arremata “Quando um hacker invadir os
seus óculos, terá muito mais poder do que se tivesse acesso ao seu
computador ou ao seu telefone. Ele tem controle de uma câmera e um
microfone conectado à cabeça. Um Glass infectado não só transmite
todos os seus movimentos, ele também vê tudo que você vê e escuta
tudo que você ouve.” E, como já vimos anteriormente, Jay Freman
afirma já ter feito isso.
São
questões sérias, que não podem ser resolvidas somente no âmbito
das relações comerciais.
Conclusão
Voltando
a questão inicial, ou seja, analisando as possíveis consequências
do Google Glass nos Negócios em Mídias Digitais, vemos que:
Usando
tecnologia de ponta e novos conceitos, os óculos criam a
possibilidade de sobrepormos o mundo real e o virtual, gerando uma
experiência de interação entre ambos em um grau ainda não visto,
uma hipervirtualização com pessoas desempenhando tarefas rotineiras
enquanto estão conectados à internet acessando e gerando conteúdo.
Mesmo
antes do lançamento, o Google Glass já pode ser considerado um
sucesso pois está extrapolando uma das definições clássicas de
inovação tecnológica. Muitos dos impactos positivos e negativos do
produto podem somente ser vislumbrados no momento atual. Como o
Google Glass permitirá que pessoas se conectem as mídias digitais
quando de uma forma que antes não podiam fazê-lo, isto abre uma
nova fronteira não só para desenvolvedores de aplicativos, mas para
toda uma gama de novos produtos e serviços, ampliando também o
espaço daqueles que hoje já estão no mercado.
O
Google está investindo pesado nos conceitos que orientaram a criação
do Glass e está modificando alguns de seus outros serviços e
produtos para interagirem com os óculos. O fato de usar Android, é
uma grande força para o produto que antes mesmo do seu lançamento
já motiva cópias. Desenvolvedores que trabalham com foco em redes
sociais como o Twitter, parecem já estar desenvolvendo apps para os
óculos.
Por
outro lado, há questões de cunho ético, social e até político
que envolvem o uso do produto. No momento em que se trava uma batalha
pelo controle da internet e que cada vez mais pessoas são vítimas
da perda de privacidade, da vigilância, do roubo de dados e de
falhas na segurança da informação, o Google Glass pode representar
um grande risco e colaborar para uma distopia social amparada na
tecnologia, algo similar ao que foi descrito por George Orwell em seu
livro “1984”.
Em
sínteses, o Google Glass cria um novo paradigma tecnológico, o que
demandará não só novos produtos e serviços, mas também novas
atitudes dos indivíduos e da sociedade.
Livros
e Revistas consultados
- Produzindo Coletivamente na Web - A tecnologia Wiki - Marial Conceição Alves Lima: biblioteca24x7.com.br, 2009
- Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, Julian Assange, coautoria de Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann, Boitempo, 2013
- Novas mídias digitais (audiovisual, games e música);Impactos políticos, econômicos e sociais - Fábio Villares (org.) - Rio de Janeiro:E-papers, 2008
- Gestão de inovação Tecnológica, - Dálcio Roberto dos Reis, 2ª edição, Manole, 2008
- Design para a internet - Felipe Memória, 1ª edição, 2005, Elsevier
- Crônicas da virtualidade - Julio Francisco Dantas Rezende. - Rio de Janeiro: E-papers, 2008.
- “Real versus virtual”, artigo de Alessandro Vieira Faria (Cabelo), revista Linux Magazine, edição N° 77, abril de 2011
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