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27 março, 2015

Drummond, Banksy e Eliane Brum


Um dos melhores textos que li este ano foi "Antiautoajuda para 2015" da Eliane Brum. Nele a autora escreve "Em defesa do mal-estar para nos salvar de uma vida morta e de um planeta hostil".
Vivemos em uma sociedade onde há "eterno presente" e, segundo Guy Debord, a cacofonia do espetáculo nos tornou surdos  a tudo, inclusive a nós mesmos. Faliram o Estado, o mercado, a política, os partidos... Penso nisso e lembro de "Elegia 1938", poema de Carlos Drummond de Andrade. Chegou o novo século e só recebemos a infelicidade coletiva. Ainda há tempo?

Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Carlos Drummond de Andrade

19 março, 2015

Cid Gomes, Catilina e Nogueira Accioly

Você é um daquelxs que "lavou a alma" com o que o Cid Gomes disse ontem (18/03/15) no Congresso Nacional e começa a achar que ele vai virar herói, que ele sai do governo pela esquerda e blablabla? Pois não é bem assim. Relembrando alguns fatos:
1. Longe de demonstrar coragem quando preciso, Cid tem feito o contrário: ontem, não citou um único nome e foi demitido a mando de Eduardo Cunha. Em 2012, quando a PM fez greve/motim no Ceará e Fortaleza ficou entregue ao caos, o governador simplesmente...desapareceu até a greve acabar!

2. Durante seus malfadados 8 anos de gestão como governador do Ceará, sempre usou da arrogância e até da violência no trato com movimentos sociais e opositores. Exemplo lastimável foi quando, juntamente com o atual prefeito de Fortaleza (Roberto Cláudio), mandou a PM espancar professores estaduais que estavam em greve de fome acampados na Assembleia Legislativa. Sua arrogância é tanta, que enviou a mesma Assembleia , sempre submissa a seus caprichos, projeto de lei transformando 40 quarteirões em torno do palácio do governo (Abolição) em “zona de segurança”, dando direito a PM de fechar o espaço sempre que ele e seus sucessores achassem conveniente. Como lembrou um deputado, nem a rainha da Inglaterra fez algo assim com o Palácio de Buckingham. Não é a toa que em muitos protestos, os cearenses gritaram “Cid ditador”.

3. Na educação, além de mandar bater e perseguir professores, Cid ingressou com ação judicial para não pagar o Piso do Magistério; disse que professor deveria trabalhar por amor e não por salário; Em 2014, no final de sua gestão, o Ceará ainda possuía mais de um milhão de analfabetos; E, quando foi nomeado ministro da Educação por Dilma, os professores das universidades estaduais cearenses estavam há mais de cem dias em greve sem ter conseguido uma única audiência com Cid.

4. Sua gestão foi marcada por escândalos financeiros e suspeita de corrupção. Em 2013 contratou buffet de luxo para o Palácio do Governo ao custo de R$ 3,4 milhões. Isto em um estado miserável como o Ceará. Também contratou Plácido Domingo por R$ 3,3 milhões para um único show no Centro de Eventos. Pagou cachê menor a cantora Ivete Sangalo (R$ 650 mil), mas desta vez para show de inauguração de um hospital em sua cidade natal, Sobral. Um mês após a inauguração, a fachada do hospital caiu durante uma chuva. O metrô de Fortaleza (Metrofor), uma das obras mais caras de sua gestão e cuja Linha Sul deveria ser concluída em 2 anos, até hoje não funciona direito. Mesmo assim Cid inaugurou o metrô com Dilma em 2012. Em 2014, o Tribunal de Contas da União constatou superfaturamento na obra. Outra obra sob suspeita é o Acquário, um aquário gigante com custo que pode chegar a R$ 500 milhões. Há problemas ambientais, suspeita de favorecimento de uma empresa norte-americana etc. No momento deputados de oposição tentam aprovar uma CPI na Assembleia Legislativa. Cid também levou a sogra para passear na Europa com dinheiro público e em jatinho fretado por R$ 388 mil. Por coincidência, as construtoras que executaram grandes obras em sua gestão, são aquelas citadas na Operação Lava Jato. Há suspeita do envolvimento de Cid com Paulo Roberto Costa

5. Na questão ambiental, além do Acquário, Cid bancou o desmatamento do Parque do Cocó, em Fortaleza, inclusive usando a PM para retirar de forma violenta ativistas que protestavam contra a construção de um viaduto que violou a área do Parque. Obras monumentais como o Complexo Portuário do Pecém trazem grande impacto ambiental. Tudo feito a toque de caixa, sem discussão..

6. Por fim, se Cid queria falar, por que calou quando o governo que ele integrava e ainda apoia cortou 31% da verba da Educação e ainda adotou o debochado e ridículo slogan de “Pátria Educadora”? Por que negou que conhecia Paulo Roberto Costa e logo depois pipocaram nas redes sociais fotos de ambos tratando da refinaria fantasma do Ceará? Por que disse que pediu demissão quando foi clara e sumariamente demitido por Eduardo Cunha? Por que não citou nome de nenhum dos “achacadores”? O ex-ministro e ex-governador não me lembra a figura de nenhum “pai da pátria”. Lembra antes a do romano Lucio Sergio Catilina, mas sem sua coragem. Sobre Catilina, Cícero pronunciou o famoso “Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra? ” (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?). Lembra ainda outro ex-mandatário cearense, Nogueira Accioly, corrido pelo povo de Fortaleza á força das armas e escondido sob a batina de um bispo. Mas os tempos são outros não é?

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