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26 dezembro, 2019

Festas caras: Réveillon no Rio custou R$ 18 milhões e em Fortaleza R$ 9 milhões

Em Recife, o custou foi de R$ 1 milhão




Na virada do ano 2018/19, o Réveillon promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro custou R$ 18.337.425,00. Desse montante, R$ 13.338.425,00 saíram dos cofres municipais. O restante foi obtido através de patrocínios com o setor privado e um banco público.

A festa da virada do ano na capital carioca deve ter sido a mais cara do país. Mesmo a cidade estando em péssima situação financeira, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) decidiu abrir o caixa. Em 2018, a cidade fechou suas contas com um rombo de R$ 3,3 bilhões, conforme dados do Tribunal de Contas do Município (TCM).

Provavelmente o segundo réveillon mais caro do país foi o de Fortaleza, com custo de R$ 9.454.960,40. Destes, R$ 7,6 milhões saíram dos cofres do Município e o resto veio através de patrocínio de uma cervejaria e do Governo Do Ceará, que contribuíram aproximadamente com um milhão de reais cada.

Chama a atenção o custo exagerado dos eventos nas duas capitais e o fato de que, mesmo com patrocínios, a maior parcela dos gastos fica por conta do bolso dos contribuintes.

Já em Recife, o réveillon custou R$ 1,18 milhão e não teve patrocinadores.

Em Fortaleza, o gasto com Réveillon foi equivalente a mais de 40% do orçamento da Secretaria de Cultura durante o ano


Um dos setores que mais lucram em Fortaleza e no Rio no período do final do ano é a rede hoteleira. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), a taxa de ocupação durante o réveillon no ano passado foi de 93%. Para este ano há uma expectativa de aumento deste percentual para 95%. Já no Rio, no dia 25 de dezembro/19, a ocupação para o Réveillon chegava a 85%.

Mas se a rede hoteleira lucra, não se pode dizer o mesmo da cultura. Em Fortaleza, a despesa feita com o Réveillon não foi proporcional ao desembolso com a área cultural no restante do ano. Em 2018, o gasto total da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) foi de apenas R$ 21 milhões, embora a previsão da Lei Orçamentária Anual (LOA) tenha sido de quase R$ 53 milhões. O gasto na festa de Réveillon, realizada em uma única noite, foi o equivalente a 43% de todo o orçamento da Secretaria de Cultura durante o ano.

*Os dados desta matéria foram obtidos através da Lei de Acesso à Informação.

17 novembro, 2019

Réveillon de Fortaleza, um dos mais caros do país, custou R$ 9,4 milhões





Festa na capital cearense foi sete vezes mais cara que em Recife onde o custo foi de R$ 1,18 milhões



Na virada de 2018 para 2019, Fortaleza teve uma das festas de réveillon mais caras do país. Para a realização do evento, foram gastos R$ 9.454.960,40.

Deste montante, R$ 7,6 milhões saíram dos cofres do Município e o resto veio através de patrocínio de uma cervejaria e do Governo Do Ceará, que contribuíram aproximadamente com um milhão de reais cada.

Do total de R$ 9 milhões, mais de três milhões e meio foram gastos com cachês de atrações musicais, sendo o mais caro o da cantora Marília Mendonça, que foi de R$ 720 mil.

Além disso, a festa contou com um show pirotécnico que durou 17 minutos com o valor de R$ 1,6 milhão, quase R$ 100 mil queimados por minuto.

A Prefeitura de Fortaleza também contratou uma empresa para divulgar e conseguir patrocinadores para o evento, que recebeu R$ 342 mil. Destes, R$ 200 mil não foram computados nos gastos informados pela Prefeitura por razões contratuais com a empresa, (20% sobre cotas de patrocínio), o que elevaria o custo da festa para R$ 9,6 milhões.

Se comparados os valores desembolsados em Fortaleza e em Recife, por exemplo, o gasto na capital pernambucana foi sete vezes menor. Conforme a Prefeitura do Recife, o réveillon contou com 14 atrações musicais, dentre elas Elba Ramalho. Também houve 15 minutos de show pirotécnico.


Gasto com réveillon foi equivalente a mais de 40% do orçamento da Secretaria de Cultura durante o ano



Um dos setores que mais lucram em Fortaleza no período do final do ano é a rede hoteleira. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), a taxa de ocupação durante o réveillon no ano passado foi de 93%. Para este ano há uma expectativa de aumento deste percentual para 95%. De acordo com a Prefeitura de Fortaleza, a festa da passagem do ano reuniu 1,2 milhão de pessoas no Aterro da Praia de Iracema.

Mas se a rede hoteleira lucra, não se pode dizer o mesmo da cultura. Em Fortaleza, a despesa feita com o réveillon não foi proporcional ao desembolso com a área cultural no restante do ano. Em 2018, o gasto total da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) foi de apenas R$ 21 milhões, embora a previsão da Lei Orçamentária Anual (LOA) tenha sido de quase R$ 53 milhões. O gasto na festa de réveillon, realizada em uma única noite, foi o equivalente a 43% de todo o orçamento da Secretaria de Cultura durante o ano.

É importante deixar claro que os gastos feitos com o réveillon não foram realizados pela Secultfor, mas pela Secretaria de Governo (Segov), que em 2018 tinha um orçamento de R$ 53 milhões previstos na LOA, mas teve um gasto acumulado de R$ 94,7 milhões.

Para o réveillon deste ano, já estão confirmadas atrações musicais como as cantoras Simone e Simaria e o cantor Felipão. Até o momento ainda não foram divulgados custos, mas nada indica que estes sejam menores que os do ano passado.



Os dados desta matéria foram obtidos através da Lei de Acesso à Informação, inclusive fazendo uso de recurso em 1ª instância, quando a Prefeitura de Fortaleza não respondeu à solicitação inicial.

05 novembro, 2019

Dívida pública de Fortaleza continua a crescer em ritmo alarmante

Há anos que escrevo e procuro alertar sobre o crescimento alarmante da dívida pública do Município de Fortaleza, principalmente sob as gestões do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
O endividamento crescente se dá muitas vezes sob motivos no mínimo questionáveis, como a construção de um novo aterro na av. Beira-Mar. 
Mas, de maneira geral, a imprensa local, os parlamentares e as entidades da sociedade civil pouco ou nada têm se preocupado com isso. 
A conta desta dívida vai chegar no futuro e vai ser bem salgada. Hoje já existem municípios e estados (o Rio de Janeiro e Porto Alegre são exemplos), que nem mesmo conseguem pagar o salário do funcionalismo em dia. Fortaleza vai pelo mesmo caminho e, em ritmo acelerado.
Os dados aqui são do site https://www.tesourotransparente.gov.br/ e foram colhidos dia 05/11/19



Leia mais sobre o tema: Link 1, Link 2, Link 3

01 outubro, 2019

Tasso Jereissati, relator da reforma da Previdência no Senado, não abriu mão da aposentadoria especial

Movimento sindical continua a luta contra a reforma


Publicado  também Brasil de Fato em 1º de outubro de 2019

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), relator da reforma da Previdência no Senado, não abriu mão da possibilidade de aposentadoria especial pelo Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC), que permite aposentadorias de parlamentares com proventos mensais de até R$ 33.763,00. Escolha que parece contraditória, já que o maior salário imposto pela reforma da Previdência à grande maioria dos trabalhadores quando se aposentam é de R$ 5.839,45, que é o teto do regime geral (INSS). Enquanto os outros dois senadores cearenses, Cid Gomes (PDT) e Luiz Girão (Podemos) não aderiram ao regime especial e mensalmente desembolsam R$ 642,33 para o INSS, Tasso paga R$ 3.713,93/mês ao PSSC, contribuição que não é obrigatória.

Através da Lei de Acesso à Informação (LAI), esta reportagem apurou que o senador Tasso Jereissati contribuiu com a seguridade dos congressistas “no período de 01/02/2003 a 31/01/2011 (52ª e 53ª Legislaturas) e de 01/02/2015 até a presente data (55ª e 56ª Legislaturas)”, totalizando até agosto de 2019, 150 contribuições, o que perfaz praticamente todo o seu tempo de mandato como senador até agora. Caso se decida pela aposentadoria especial através do PSSC, no final do mandato atual, Tasso pode ainda averbar seus 8 anos de mandato como governador. Se somados os dois mandatos como governador e os dois como senador, totalizam 24 anos.

Para requerer a aposentadoria especial pelas regras da atual reforma, Tasso precisaria ter contribuído por mais 14 anos com outro regime de Previdência. Nada garante que o senador entre com pedido de aposentadoria especial. Mas o fato de ter pago o PSSC durante todo o seu tempo como congressista, com uma mensalidade muito superior àquela paga por outros senadores ao INSS, claramente indica a possibilidade dele querer usufruir do mesmo.

Vale lembrar que conforme dados da declaração de bens apresentada ao Justiça Eleitoral quando concorreu a vaga no Senado, em 2014, Tasso possuía na época R$ 389 milhões em bens e patrimônio declarados. É o parlamentar de maior fortuna no Senado. Com mandato até janeiro de 2023, também é empresário, dono de terras, um dos fundadores do Grupo Jereissati, no Ceará possui empresas que representam produtos da Coca-Cola e o Shopping Iguatemi de Fortaleza, entre muitas outras.

Aposentadoria especial vai continuar existindo para ex-parlamentares e atuais congressistas


O relatório de Tasso sobre a reforma da Previdência (PEC 06/19), a ser votada no Senado, manteve o Plano dos Congressistas para os atuais inscritos, sejam ex-parlamentares ou deputados e senadores do mandato atual. Pela lei, a contribuição previdenciária para o Plano não é obrigatória. Se o parlamentar escolher não aderir ao PSSC, precisa contribuir para o INSS ou para o regime próprio de previdência, caso seja servidor público ocupante de cargo efetivo.



Após a reforma entrar em vigor, os parlamentares registrados no PSSC só poderão se aposentar com 65 anos de idade e 35 anos de contribuição, se homem em qualquer regime de Previdência. Além disso, o texto da reforma impõe ainda um período adicional de 30% sobre tempo de contribuição que falta para a aposentadoria. Por exemplo: se antes da reforma, o parlamentar tinha contribuído com 30 anos, ao invés de mais cinco anos, ele terá que contribuir com seis anos e meio.

Para cada ano que contribuir com o Plano dos Congressistas, o parlamentar tem direito a 1/35 (um trinta e cinco avos) do salário total na aposentadoria. Os deputados e senadores podem fazer ainda a chamada “averbação onerosa” do tempo correspondente ao exercício de mandatos eletivos anteriores, desde que seja feito o recolhimento das respectivas contribuições. Ou seja, o congressista pode usar seu tempo de mandato como governador, prefeito, vereador etc. e incluí-lo na contagem do tempo para aposentadoria no PSSC.

Correção: após a publicação, um leitor atento me fez notar que Tasso teve três mandados e não dois, como governador do Ceará. Foi eleito nos anos de 1986, 1994 e 1998. Assim, se averbar o tempo destes três mandatos ao PSSC, precisaria de apenas dez anos de contribuição em outro regime previdenciário. (atualizado em 02/10/19) 

26 junho, 2019

Uma fábula sobre dias incertos




Nestes dias incertos pelos quais passamos, a arte, o riso e a amizade, constituem trincheiras importantes para resistir e manter a esperança e a lucidez. Dito isso, abro espaço no blog para publicar "Uma fábula sobre dias incertos", do jornalista e amigo Augusto do Nascimento. Qualquer semelhança com o que vivemos não é mera coincidência. Oxalá no final, a vida imite a arte.



Uma fábula sobre dias incertos


Após anos se movimentando e alimentando em subterrâneos obscuros, a família de vermes sanguinários finalmente alcançou a superfície do jardim. No entanto, o pai verme e seus filhos, pouco afeitos à claridade e calor dos dias ensolarados, ou à suavidade da noite, não conseguiram se adaptar bem ao mundo.
Na verdade, as outras manifestações de vida lhes eram estranhas, pouco ou nada aceitáveis. Para eles, conviver com as diferenças era fora de cogitação. O canto dos pássaros, o desabrochar das flores, a leveza da brisa, o brilho das estrelas, como tudo isso era insuportável! Seu intento, antes de cumprir a sina de retornar às profundezas de onde vieram, era destruir o que não podiam tolerar. Dominar, e depois destruir.
Para lograr êxito, convocaram seus pares, vermes até então emudecidos na lama e nas fezes. Aliaram-se a outras espécies, também sedentas de poder e igualmente intolerantes diante do que a natureza oferecia de mais precioso, saudosas de tempos de outrora, quando tinham sido reinantes ou dizimado aqueles que não lhes apeteciam. Ratos pestilentos e cheios de artimanhas articulavam entre si alianças impolutas; amebas livres espalhavam-se em todos os cantos com uma cantilena repetitiva, a bradar que traziam a redenção e dias gloriosos; vírus letais silenciosamente disseminavam males e ceifavam vidas. Em apoio ao ardil, abutres altivos com longas asas negras orientavam julgamentos arbitrários e condenavam quem lhes servisse de obstáculo.
Por um instante, o jardim se sentiu ameaçado, sem entender como aqueles seres tinham se sublevado e angariado expressão para impor tantas pretensões iníquas. Como suas vociferações carregadas de ódio tinham desequilibrado a harmonia tênue (ainda que incompleta, pois a natureza tem o feitio de sempre se renovar). Com o triunfo da família de vermes, as noites – sem lua – pareceram mais longas, as folhas secaram antes do inverno, as fontes de água deixaram de correr e espalhar vida. A própria beleza tinha sido saqueada.
Um dia, fauna, flora e o reino mineral se deram conta de que tinham força. Mais força ainda do que supunham. Surpreendidos pela reação dos que queriam resgatar a florescência natural, os saqueadores do jardim tentaram uma vez mais impor seus esgares, na vã ilusão de que conseguiriam voltar a vencer pelo grito e pelo esconjuro. Não bastasse o ato de resistência coletiva, os velhacos aliados, em covardia habitual, afastaram-se do inepto pai verme e de seus filhos, buscando refúgio em recônditos sombrios que pudessem oferecer alguma segurança.
E os parasitas sanguinários, depois de pisoteados, voltaram rastejantes à frieza dos subterrâneos, de onde nunca deveriam ter saído.




11 janeiro, 2019

O zé povinho e a dança das armas

No bairro Barroso II, ruas completamente às
escuras,  com lâmpadas quebradas


Publicado  aqui e no site Segunda Opinião, em 11/01/19 e no Blog do Eliomar/Portal O Povo, dia 13/01/19

Na gíria do crime, as pessoas comuns, que não são do meio e nem ligadas ao aparelho repressivo do Estado, são conhecidas como “zé povinho”. E somos nós, os“zé povinho”, os que mais têm sofrido com o inferno dos ataques criminosos no Ceará.

As facções foram chamadas para o enfrentamento aberto através das declarações e ações do secretário de Administração Penitenciária do Estado (SAP), Luís Mauro Albuquerque no dia 2 de janeiro. Desde então a rotina tem sido alterada por fogo, bombas e medo.

Os criminosos, que iniciaram seus ataques contra alvos tradicionais como ônibus, bancos e delegacias, passaram ao longo destes dez dias de inferno a fazer ataques indiscriminados e que não repercutem junto ao Estado e nem ao status quo, que são em boa parte responsáveis pela situação caótica em que estamos.

Queimaram o ‘Carro dos Churros”, no bairro Granja Lisboa, no Grande Bom Jardim.

Atearam fogo em um carro de uma auto escola, no Jangurussu, e o instrutor ficou com queimaduras graves.

Incendiaram o caminhão que puxava o “trenzinho da alegria”, em Maracanaú.

Tocaram fogo em uma van de transporte escolar, no Mondubim.

Depredaram uma creche mantida por uma igreja evangélica, na Sapiranga.

Como vão sobreviver estas famílias e outras que tiveram seu ganha pão transformado em cinzas?

Mas os danos não são somente patrimoniais e físicos. São psicológicos. São direitos essenciais negados, como o direito de ir e vir e de ter fornecimento de água e luz.

Tenho um amigo que ao falar sobre os ataques ou qualquer coisa relacionada aos mesmos, tem de cochichar no telefone, pois é vizinho de porta de um olheiro de facção.

Outra, não dorme mais à noite com medo que invadam o condomínio simples em que mora na periferia e a queimem viva com seus dez gatos (já houve ameaças).

Uma terceira, que se sentia relativamente segura por fazer trabalho assistencial com filhos de criminosos, agora está em pânico pois quebraram todas as lampadas do seu bairro e os faccionários mandaram os trabalhadores pararem uma obra ao lado de sua casa, sob pena de levarem bala.

O transporte coletivo, que é serviço essencial e em grande parte integrado pela frota de ônibus, tem causado imensos problemas a usuários. O Sindiônibus manda recolher os veículos a qualquer hora, deixando a população na rua e a mercê dos bandidos. Pela manhã, muita gente chega atrasada ao trabalho e leva bronca sem ter culpa. Quando chega o fim da tarde não sabe se consegue ônibus para retornar para casa e no dia seguinte começa tudo de novo. Uma senhora cadeirante, de 44 anos, esperou um coletivo por mais de uma hora à noite no terminal do Conjunto Ceará. Ao não conseguir embarcar, ligou para o marido que veio buscá-la e voltou para o Bom Jardim empurrando sua cadeira de rodas, por ruas escuras e em um percurso que demora aproximadamente duas horas.

Em Taquara, município de Caucaia, desde o dia 8 que criminosos cortaram a fiação dos postes e as residências encontram-se sem energia elétrica. Ligações seguidas para a Enel, empresa responsável pela manutenção elétrica e que assumiu serviços após privatização do setor, se mostram inúteis. Situação se repete em outros locais de Fortaleza e Região Metropolitana. Tanto a Enel como o Sindiônibus alegam insegurança para a suspensão no fornecimento de serviços. O lixo também não foi recolhido em vários bairros.

Por toda a periferia, comércios são obrigados a fechar e o toque de recolher é imposto.

Servidores municipais trabalham com medo em postos de saúde e hospitais e a Prefeitura de Fortaleza está sendo cobrada a garantir efetivamente a segurança dos mesmos, coisa que ainda não fez.

Antes dos atuais ataques criminosos, as chacinas, a expulsão de famílias de suas casa, os assassinatos, a tortura e a crueldade se transformaram em rotina na periferia de Fortaleza e em cidades do interior.

E as facções não chegaram a essa posição de domínio sem a cumplicidade do Estado. Desde os desembargadores que venderam liminares para soltar traficantes e que foram “apenados” com aposentadoria compulsória, passando por policiais, agentes penitenciários e outros, a banda podre do Estado tem sua parcela de culpa e esta não é pequena.

O governador Camilo Santana, que hoje culpa presidentes da República por não terem dado atenção ao problema de segurança, agiu da mesma forma e praticou por um bom tempo a política da avestruz na área.

A barbárie mora ao lado e cada vez mais mostra sua cara. Não se sabe até quando os ataques continuarão. Mas para o “zé povinho”, já deu e sobrou.

Não tenho dúvidas que somente com aumento da repressão e política de encarceramento em massa a questão da criminalidade não será solucionada.

O problema da violência só se resolve com mudanças nas relações sociais, tão estruturadas pela cobiça, pelo capital e pelo poder. Nesse contexto, facilitar a posse de armas para os mais privilegiados nada mais é que ampliar a guerra contra os mais pobres, ou bem dizer, os "zé povinho". Em um estado e em uma cidade marcados pela gritante desigualdade social, fazer dancinha simulando apontar armas, assim como fazem os endinheirados, é um prenuncio da barbárie que se avizinha.

03 janeiro, 2019

Ceará pode virar novo laboratório para intervenção militar

Coluna de viaduto na BR 020, após explosão de bomba no local.
Viaduto segue interditado.
Fortaleza, 3 de janeiro de 2019

Circulam na cidade de Fortaleza e em grupos do WhatsApp, três salves (informes) assinados pelo “crime organizado” e datados de 23 e 28/12/18, e de 03/01/19.

Nos dois primeiros, o chamado “crime organizado” pede para uma trégua temporária na disputa entre facções e a união para enfrentar o problema da repressão que deve se aprofundar no sistema prisional, citando especificamente o governador Camilo Santana (PT) como responsável por “trazer problemas”.

Há ameaças de parar o estado explodindo viadutos, pontes, trilhos de trem e metrô, caso sejam atacados. Acirramento.

Durante sua posse, dia 2, o titular da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (SAP), Luís Mauro Albuquerque, fez questão de afirmar que "Eu não reconheço facção. O Estado não deve reconhecer facção. A lei não reconhece facção”. Acrescentando ainda que “Quem manda é o Estado". Em seguida sinalizou que mudará o modo como o Governo do Estado lida com a divisão de detentos nas unidades prisionais do Ceará, colocando doravante detentos de diferentes facções no mesmo presídio. Com isso, o secretário acendeu o barril de pólvora.

Durante a noite do dia 2 e o dia 3, que ainda não terminou, Fortaleza e a Região Metropolitana estão vivendo horas de terror. Bomba em viaduto; ônibus, casas, veículos públicos, fotossensores e van incendiados; agência bancária metralhada; princípio de rebelião em presídio e população em pânico.

Por volta do meio dia, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), sem dúvida seguindo diretriz do Sindicato das Empresas de Ônibus (Sindiônibus), anunciou que a frota de coletivos de Fortaleza e RMF seria reduzida, o que é um eufemismo para dizer que os ônibus vão praticamente parar de circular.

Procurado pela imprensa na manhã do dia 3, o secretário que fez bravata dizendo que não reconhece facção, preferiu calar e aguardar.

Ainda nesta manhã, general Theophilo, que disputou o Governo do Ceará com Camilo Santana e tinha como plataforma principal a Segurança Pública, ofereceu ao governador ajuda através de intervenção federal. O general foi recém empossado por Bolsonaro na Secretaria Nacional da Segurança Pública, tendo saído antes do PSDB, partido pelo qual foi candidato.

À tarde, Camilo Santana pediu ajuda ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Camilo pleiteou o auxílio da Força Nacional de Segurança, do Exército e da Força de Intervenção Integrada (FIPI), da qual o secretário Luís Mauro foi coordenador, agindo inclusive durante motins em presídios cearenses em 2016.

De imediato, o general Theophilo “informou que o Governo Federal já esperava ações de facções criminosas em represália à posse de Jair Bolsonaro (PSL)”. Isso parece um tremendo oportunismo político. Em nenhum dos salves que vi se faz qualquer menção a Bolsonaro ou a seu governo.

No terceiro salve, com data do dia 3, os criminosos pedem a demissão do titular da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (SAP), Luís Mauro Albuquerque e ameaçam parar o estado atacando também bancos, delegacias e Correios se isto não ocorrer.

O general também declarou que "Não vamos negociar com criminosos, vamos partir para o confronto".

Quem ganha com isso? Embora tenha sido duramente criticada pelo general durante a campanha eleitoral para governador do Ceará, a política de Segurança Pública de Camilo Santana é muito similar ao que prega Bolsonaro. E tem sido um completo fiasco, deixando o estado afogado em sangue (só em 2018 foram mais de 4500 assassinatos). O governo fracassou também no enfrentamento às facções, inclusive quanto estas foram abertamente para o confronto nas ruas.

Enquanto escrevo este artigo, no final da tarde, recebo relatos de vários pessoas que não estão conseguindo pegar ônibus para voltar para casa e nem sabem como vão trabalhar amanhã. Em vários bairros de Fortaleza e da RMF, os ônibus pararam de circular às 14h. Agora há pouco recebi informação de um sequestro contra funcionários de uma escola municipal no bairro Canindezinho, em Fortaleza.

Já existem pessoas feridas em decorrência das ações criminosas e o clima de temor é geral. Por enquanto a polícia prendeu 12 pessoas, supostamente envolvidas nas ações, o que é quase nada, considerando o número de faccionários existentes hoje no estado.

Enquanto o governador, o secretário, o general e o ministro fazem política e ameaçam transformar o Ceará em um novo laboratório para intervenção militar, como ocorreu no Rio de Janeiro,  e os criminosos continuam tocando o terror, a única certeza que temos é que mais uma vez quem mais vai sofrer é a população pobre, que depende do transporte urbano para se locomover, que é vítima da violência (inclusive policial) na periferia e em nome da qual todos falam, mas poucos se importam de fato com o que acontece a estas pessoas.


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