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11 março, 2020

Diários de São Luís (parte I)



Dois anos atrás, passei férias em São Luís do Maranhão. Prometi a alguns amigos(as) e a mim próprio escrever sobre. Mesmo tardiamente, segue: um misto de crônica, diário de bordo e roteiro turístico não ortodoxo.



São Luís, em uma área de uns quatro por quatro quarteirões, deve ter mais prédios históricos (grande maioria em ruínas) do que em toda Fortaleza. Andar no Centro Histórico é um mergulho no tempo, envolvente e revoltante, Cada casarão é um tesouro, uma história, uma fábula. A maioria está tombada, sendo deixada para cair. O jardim da Casa da Música, por exemplo, é de arrepiar e fazer sonhar.


Enquanto isso, o Landau (do seu Sarney) e a Veraneio (da dona Marli, primeira dama) são tratados como deidades no Convento das Mercês, que começou a ser construído em 1654. A história do prédio é turbulenta. As más línguas dizem que, além de garagem nobre, poderá virar mausoléu do mandatário.


Em uma única tarde é possível ver a Feira da Praia Grande, descobrir figuras alambiquistas e lendárias como o Corinthiano e o Batista, chefs de cousine disfarçados de donos de boteco, como o Deco… Mas conhecê-los demora dias, meses, quiçá anos.


A Feira, como todo bom ludovicense chama, é um personagem em si. Um grande armazém de secos e molhados. Além disso serve comida, bebida, artesanato, diversão… E diferente de outros mercados que conheci, fica aberto durante parte da noite. Nas várias vezes que visitei, me pareceu haver um jogo perpétuo de dominó acontecendo em uma das portas e que o traçado interno mudava. Mas vai ver foi só efeito da Tiquira.



É na Feira que fica o Bar do Decos. Serve aquela omelete (ou fritada) de siri, peixe, camarão, pinga e cerveja boa e gelada. Tudo a preço justo, sem frescura. Prato feito de lamber os beiços.

Na Feira também fica o Bar do Corinthiano. Não passei lá uma única vez para não encontrar o balcão lotado, todo mundo rindo e bebendo em boa paz. Um alvoroço. As bebidas do maestro têm títulos auto-explicativos e prometedores: “Fogosinha”, “Fogozada”, “Gogozada” e “Fura Ferro”. Recomendo todas moderadamente e com a devida e prévia libação. Laroyê!

Já o mestre Batista, só encontra quem conhece. Seu estabelecimento fica pros lados do Convento das Mercês, em algum beco ou travessa. Creio ter visto mais de 100 variedades de cachaça (é uma verdadeira cachaçaria!). Pense em alguma folha, fruta ou raiz que possa ser misturada com destilado e você encontra. Cachaça de pitomba, cachaça de gengibre, cachaça de banana...Aí se perde a conta. Ele é muy cerimonioso. Na época em fui, acompanhado por um amigo jornalista que o conhece de há muito, nem foto permitiu. Melhor. Leva-se só á lembrança.


E do que vale muito a pena ser lembrado: o Cais da Sagração ou simplesmente Cais da Praia Grande ou mais simples ainda: Cais. Sua construção foi iniciada em 1841, mesmo ano em que a coroa subiu à cabeça de Pedro II. O Cais também é um personagem. Título de livro de Josué Montello (a ele voltaremos), figura sabe-se lá em quantas histórias, lendas, músicas. “Foi construída uma grande extensão de muralhas espessas, feitas em alvenaria de pedra e reboco, pintadas na cor branca, interrompidas por três rampas. Duas meias-luas também interrompem o sentido retilíneo da muralha, correspondentes aos Baluartes de São Cosme e Damião. Os muros possuem bancos embutidos. Em seu entorno, fica localizada a Avenida Beira-Mar, em trecho arborizado com coqueiros.”


Essa descrição não fala nada sobre como é fácil se apaixonar sentado na Praça em Frente ao Cais, vendo o pôr do sol e tomando água de coco ou café nos carrinhos de ambulantes. Às vezes é até mais fácil que pegar uma barca pra Alcântara. Não fala que o Cais fica cercado de museus, no fim da descida das ladeiras do Centro Histórico. Nem que acaba (acaba?) do lado terminal de ônibus, de onde se parte, de a pé e de cambão para conhecer São Luís do Maranhão. Mas tudo isso fica pra próxima crônica na qual prometemos bois de matraca, museus com guias que botam a perder, amores de Donana Jansen e uma visita à Casa das Minas.

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