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01 abril, 2021

Uma carga da cavalaria do sarcasmo



Neste 1º de abril de 2021, Dia da Mentira e aniversário do golpe militar-civil de 1964, aproveito para publicar posfácio que fiz para o Dicionário Involucionário, do Felipe Franklin Neto. O livro foi publicado em 2019, mas continua bem atual. Segue o texto e #ForaBolsonaroGenocida



2013: milhões nas ruas do Brasil. Milhares nas ruas de Fortaleza. Os manifestantes não sabiam ao certo o que queriam (não era por vinte centavos), mas o que não queriam sim. O catalisador foi a Copa das Confederações.

Os protestos tiraram o sono da elite, dos políticos, dos especuladores, dos que se acham donos do Brasil. E eles entenderam o recado e o risco que as ruas representavam.

Nas manifestações com pauta difusa, já existia o germe desse protofascismo que vivemos em 2019. Brancos enrolados em bandeiras verde e amarelo manifestando sua tara por fardas e entregando os pivetes pretos da periferia aos policiais (infiltrados ou não). Carreiristas descarados usando grupos do Facebook para mentir, canalizar a revolta e fazer sua cavaçãozinha (O WhatsApp ainda não existia). A grande mídia criminalizando protestos e sendo porta-voz dos cidadãos de bem. E os velhos bandidos de sempre fabricando a ilusão da nova política.

Os governos, de esquerda e de direita, mandaram descer o cacete. Tiro, porrada e bomba, como fizeram antes e como fazem até hoje.

Mas nesse Brasil de 2013 também estava a semente do que poderia ter sido e ainda pode. Do enfrentamento ao status quo, do acampamento no parque do Cocó em Fortaleza, das manifestações no Makro, em frente ao Palácio da Abolição, na Serrinha. Um movimento pra negar a barbárie e quebrar a lógica do fim do mundo para onde o capitalismo nos encaminha.

E foi nesse clima que o Dicionário Involucionário saiu. Sociologia poética. Léxico fora da ordem.

Hoje, para compreender a involução que estamos vivendo, é fundamental revisitar, ainda mais de forma divertida e prazerosa, aqueles dias (e noites). (Re)ler os verbetes escritos no calor da hora. Literatura, arte, contestação, filosofia, rebeldia. Escrita automática, sarcástica e humana.

Debord escreveu o Sociedade do Espetáculo com com 221 aforismos. O Dicionário tem 188 verbetes. Em comum a denúncia do espetáculo e sua cacofonia que vai nos engolindo, cegando, embrutecendo, sufocando. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens”.

Para romper com essa lógica, todas as armas são boas: pedras, noites, poemas… E dicionários. (Paráfrase do Leminski).

Então, mais uma arma para ajudar a enfrentar as milícias (virtuais ou não), o exército de robôs e de imbecis robotizados que odeiam a história, a filosofia, a arte, o pensamento. Que perseguem professores, sindicalistas, artistas, jornalistas e qualquer um(a) que não se submeta ao seu circo de horrores e bobagens perversas.

A jornalista Eliane Brum escreveu que “Os perversos corromperam a palavra ... Só por isso podem dizer que o Brasil está ameaçado pelo ‘comunismo’ ou que o nazismo é de 'esquerda’ ou que o aquecimento global é um 'complô marxista’...Precisamos voltar a encarnar as palavras. Ou enlouqueceremos todos. A criação do comum começa pela linguagem”. O Dicionário Involucionário sai novamente então em um momento apropriado.

Mayakovski escreveu que a cavalaria do sarcasmo era sua arma predileta. Ela continua temível. Faça bom uso.

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