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12 junho, 2020

Adão e Eva, terra plana e rolha no ânus

Cristo no Limbo - Hyeronymus Bosch

A quem interessa a idiotização do mundo? 

Em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, Ailton Krenak, uma das lideranças indígenas mais respeitadas do país e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, afirmou: “Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades - as nossas subjetividades.”

Esta tem sido uma das necessidades vitais do capitalismo, que hoje se mostra com maior voracidade.

É por isso que ideias absurdas e obscurantistas são divulgadas, prosperam e ajudam a alavancar o crescimento da extrema direita e do fascismo mundo afora. Se você acredita que a terra é plana, que o nazismo e o fascismo são ideologias de esquerda, que vacina é prejudicial ou que a “ideologia de gênero” existe e visa destruir a “família”, se torna muito mais fácil convencê-lo(a) de que governos petistas distribuíam o “kit gay/mamadeira de piroca”, que a Covid-19 não passa de uma gripezinha, que Bolsonaro está combatendo a corrupção e é contra o sistema ou que não há aquecimento global como resultado da ação humana. Também é neste terreno que prosperam as fake news.

Assim, o presidente, seus ministros, filhos e apoiadores, se empenham em criar um verdadeiro pandemônio, intensificado durante a pandemia, espalhando notícias falsas e ideias absurdas. Verdadeiras cortinas de fumaça que vão mutilando a já muito debilitada capacidade crítica das pessoas. Os exemplos são vários. Cito somente três, mas são milhares:

- Eduardo Bolsonaro afirma que "61% do nosso território mantém a mesma vegetação dos tempos de Adão e Eva" ;

- Movimento de extrema direita defende golpe militar e rolha no ânus para evitar coronavírus;

- Olavo de Carvalho: não há nada que refute que a Terra é plana;

Os algoritmos, que hoje controlam e divulgam as narrativas que mais agradam as corporações que os criaram (Google, Facebook, Amazon...), são usados principalmente nas redes sociais para mapear aqueles mais vulneráveis a este tipo de mensagem e levar até eles com precisão esses conteúdos. Sob o neoliberalismo, a comunicação com o outro e até com nós próprios, entrou em declínio. Há décadas que a arte do diálogo vem sendo perdida. Hoje vivemos o colapso da atenção, que ocorre quando a quantidade de informação oferecida é maior que o tempo disponível para a análise do que é informado com a concentração devida. As conversas se dão em boa parte através de emojis padronizados e “memes”. O sujeito, que tem sua opinião embasada pelo que recebe nos grupos do WhatsApp, se acha preparado para opinar sobre qualquer assunto e ao assistir a um vídeo de 10 minutos no Youtube, se sente capaz de desqualificar quem estudou e pesquisou sobre um tema por 20 ou 30 anos.

Uma socialização sem sociedade


“O sistema econômico fundado no isolamento é uma produção circular do isolamento. O isolamento fundamenta a técnica, e, em retorno, o processo técnico isola. Do automóvel à televisão, todos os

bens selecionados pelo sistema espetacular são também as suas armas para o reforço constante das condições de isolamento das ‘multidões solitárias’…”. Guy Debord escreveu isto no seu livro “A sociedade do Espetáculo” há mais de 50 anos. Permanece extremamente atual e a Covid-19 piorou isso. “A pandemia deu lugar a uma sociedade da quarentena na qual se perde toda a experiência comunitária... O vírus isola as pessoas. Agrava a solidão e o isolamento que, de qualquer modo, dominam nossa sociedade” (Byung-Chul Han).

Neste quadro, a subjetividade se torna ainda mais frágil. Os terraplanistas e demais obscurantistas, servem a uma estratégia política: ajudar a devorar a subjetividade, semear a confusão e a impotência e fortalecer a servidão voluntária, que é quando obrigamos a nós próprios, por hábito, ignorância ou fraqueza a nos submetermos a um tirano que nos aniquila. Isto é o que vivemos no mundo hoje sob o capitalismo neoliberal e no Brasil sob o desgoverno de Bolsonaro.

Felizmente há sinais de enfrentamento: o movimento contra o racismo estrutural nos EUA e que põe em cheque não só a reeleição de Trump e os recentes atos antifascistas aqui no Brasil são grãos de areia que podem empenar a engrenagem e contribuir para parar o espetáculo do fim do mundo. Talvez até mesmo para ajudar a construir o fim do mundo do espetáculo.

12/06/2020 - Texto também publicado no portal O Povo Online


3 comentários:

Unknown disse...

Adorei o texto, meu amigo, em especial a citação do líder indígena. Um tapa na cara! Beijos maranhenses, Camila Bonfim

Flávio disse...

Um forte abraço meu amigo Haroldo aqui do sindicato dos cornos

José Guimarães da Silva disse...

será que ninguém é capaz de furar os olhos desses monstros? o capital financeiro internacional nos devorará um a um, pouco a pouco. adiar o fim do mundo dos humanos em sua autonomia, ou seremos automat, machines... controlados um grupelho de ricaços...

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