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Cristo no Limbo - Hyeronymus Bosch |
A quem interessa a idiotização do mundo?
Esta tem sido uma das necessidades vitais do capitalismo, que hoje se mostra com maior voracidade.
É por isso que ideias absurdas e obscurantistas são divulgadas, prosperam e ajudam a alavancar o crescimento da extrema direita e do fascismo mundo afora. Se você acredita que a terra é plana, que o nazismo e o fascismo são ideologias de esquerda, que vacina é prejudicial ou que a “ideologia de gênero” existe e visa destruir a “família”, se torna muito mais fácil convencê-lo(a) de que governos petistas distribuíam o “kit gay/mamadeira de piroca”, que a Covid-19 não passa de uma gripezinha, que Bolsonaro está combatendo a corrupção e é contra o sistema ou que não há aquecimento global como resultado da ação humana. Também é neste terreno que prosperam as fake news.
Assim, o presidente, seus ministros, filhos e apoiadores, se empenham em criar um verdadeiro pandemônio, intensificado durante a pandemia, espalhando notícias falsas e ideias absurdas. Verdadeiras cortinas de fumaça que vão mutilando a já muito debilitada capacidade crítica das pessoas. Os exemplos são vários. Cito somente três, mas são milhares:
- Eduardo Bolsonaro afirma que "61% do nosso território mantém a mesma vegetação dos tempos de Adão e Eva" ;
- Movimento de extrema direita defende golpe militar e rolha no ânus para evitar coronavírus;
- Olavo de Carvalho: não há nada que refute que a Terra é plana;
Os algoritmos, que hoje controlam e divulgam as narrativas que mais agradam as corporações que os criaram (Google, Facebook, Amazon...), são usados principalmente nas redes sociais para mapear aqueles mais vulneráveis a este tipo de mensagem e levar até eles com precisão esses conteúdos. Sob o neoliberalismo, a comunicação com o outro e até com nós próprios, entrou em declínio. Há décadas que a arte do diálogo vem sendo perdida. Hoje vivemos o colapso da atenção, que ocorre quando a quantidade de informação oferecida é maior que o tempo disponível para a análise do que é informado com a concentração devida. As conversas se dão em boa parte através de emojis padronizados e “memes”. O sujeito, que tem sua opinião embasada pelo que recebe nos grupos do WhatsApp, se acha preparado para opinar sobre qualquer assunto e ao assistir a um vídeo de 10 minutos no Youtube, se sente capaz de desqualificar quem estudou e pesquisou sobre um tema por 20 ou 30 anos.
Uma socialização sem sociedade
“O sistema econômico fundado no isolamento é uma produção circular do isolamento. O isolamento fundamenta a técnica, e, em retorno, o processo técnico isola. Do automóvel à televisão, todos os
bens selecionados pelo sistema espetacular são também as suas armas para o reforço constante das condições de isolamento das ‘multidões solitárias’…”. Guy Debord escreveu isto no seu livro “A sociedade do Espetáculo” há mais de 50 anos. Permanece extremamente atual e a Covid-19 piorou isso. “A pandemia deu lugar a uma sociedade da quarentena na qual se perde toda a experiência comunitária... O vírus isola as pessoas. Agrava a solidão e o isolamento que, de qualquer modo, dominam nossa sociedade” (Byung-Chul Han).
Neste quadro, a subjetividade se torna ainda mais frágil. Os terraplanistas e demais obscurantistas, servem a uma estratégia política: ajudar a devorar a subjetividade, semear a confusão e a impotência e fortalecer a servidão voluntária, que é quando obrigamos a nós próprios, por hábito, ignorância ou fraqueza a nos submetermos a um tirano que nos aniquila. Isto é o que vivemos no mundo hoje sob o capitalismo neoliberal e no Brasil sob o desgoverno de Bolsonaro.
Felizmente há sinais de enfrentamento: o movimento contra o racismo estrutural nos EUA e que põe em cheque não só a reeleição de Trump e os recentes atos antifascistas aqui no Brasil são grãos de areia que podem empenar a engrenagem e contribuir para parar o espetáculo do fim do mundo. Talvez até mesmo para ajudar a construir o fim do mundo do espetáculo.
12/06/2020 - Texto também publicado no portal O Povo Online
3 comentários:
Adorei o texto, meu amigo, em especial a citação do líder indígena. Um tapa na cara! Beijos maranhenses, Camila Bonfim
Um forte abraço meu amigo Haroldo aqui do sindicato dos cornos
será que ninguém é capaz de furar os olhos desses monstros? o capital financeiro internacional nos devorará um a um, pouco a pouco. adiar o fim do mundo dos humanos em sua autonomia, ou seremos automat, machines... controlados um grupelho de ricaços...
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